5.3.09

Crónica de um recém-desempregado VIII

Todos os jornais da Controlinveste, o grupo que me despediu e a mais 118 trabalhadores, entraram em greve anteontem, quarta-feira. De jornalistas a gráficos, da publicidade a simples tarefeiros, toda a gente concordou em parar um dia para demonstrar o seu desagrado com a eliminação ilegal, inesperada e injusta de mais de dez por cento da empresa. E para chamar a atenção de que o pior ainda está para vir e nova leva igual ou semelhante irá ser encaminhada para o desemprego brevemente.

Sinceramente, um dia de greve de pouco ou nada serviu senão para que quem tem a consciência limpa e demontra solidariedade profisssional para com os outros expressar o seu desagrado. Porque o que teria mesmo valido a pena era paralisar durante três ou quatro dias e impedir que jornais como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, 24 Horas e O Jogo saíssem para as bancas. Assim, tal como foram feitas as coisas, houve sempre uma dúzia de lacaios em cada uma dessas publicações que se marimbou de alto e trabalhou como se nada fosse.

Mesmo assim, houve sinais positivos a registar entre a miséria de registar certos comportamentos. Como o facto de no Diário de Notícias ter parado mais de metade da redacção, de editores a pessoal com pouco mais de um ano de casa e com um salário de merda.

Uma excepção em relação ao que aconteceu no JN – onde vieram de novo ao de cima os grupos, grupelhos e grupinhos que por lá abundam – e na redacção do 24 Horas de Lisboa – apenas uma pessoa (uma!!!!) fez greve. Nada que me surpreendesse no jornal onde trabalhei cinco anos, aliás. Porque ninguém em Lisboa foi afectado directamente pelos despedimentos, que apenas atacaram os parolos do Porto que estão lá para cima e não passam de isso mesmo, de parolos. Ou seja, aplicaram na prática aquilo que há muito levo em conta (e não é nenhum provérbio chinês): não te surpreendas com os actos de quem menos esperas.

Esqueceram-se é que grande parte desses parolos tinham mais qualidade que a quase totalidade da redacção de Lisboa, produziam muito mais que a redacção de Lisboa, asseguravam mais reportagens de capa que a redacção de Lisboa, levantavam o cu para se deslocarem onde estava a acontecer a notícia ao contrário da redacção de Lisboa, tinham mais experiência do que a redacção de Lisboa, tapavam os buracos da redacção de Lisboa, tratavam de matérias que a chefia de Lisboa atirava para o Porto quando via que ninguém lá tinha capacidade para as fazer...


Esqueceram-se também é que agora foi o Porto a ser despedido em massa e que, e não é preciso ser muito inteligente para perceber isso, não tardará muito para serem eles os excluídos. Sem piedade ou contemplações, como eu e mais nove camaradas fomos. Aí pode ser que pensem um pedaço na postura que sempre mantiveram para com a parolada. Mas aí terão a minha mais sincera solidariedade. E não estou a ser irónico.

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