Não sou de ter ídolos, sou de ter referências. Mesmo assim poucas, muito poucas mesmo. Pessoas que lutam desinteressadamente por um ideal, que apenas desejam que a sociedade evolua sem ambicionarem retirar benefícios pessoais do sistema. Hermínio da Palma Inácio era uma delas.
O que mais me fascinava em Palma Inácio era o seu romantismo. Talvez tenha sido o último, senão o único, herói romântico contra o regime fascista que cerceou a liberdade dos portugueses durante quase 50 anos.
Fundou a LUAR (Luta de Unidade e Acção Revolucionária) e jamais permitiu aproximações ao e do PCP, que então quase monopolizava o combate ao regime. Fugiu da cadeia mais que uma vez, organizou o primeiro desvio de um avião comercial em Portugal (para lançar sobre Lisboa panfletos onde estavam enumerados os direitos dos portugueses e apelavam a uma revolta geral contra Salazar) , tentou ocupar a cidade da Covilhã, protagonizou um espectacular assalto à dependência do Banco de Portugal da Figueira da Foz (parte do dinheiro foi para o bolso de supostos anti-fascistas que fugiram do país e não mais quiseram saber de Palma Inácio).
Sempre sem uma única gota de sangue.
No 25 de Abril, estava preso em Caxias (a foto foi tirada momentos depois da sua libertação). Perguntaram-lhe se tinha sofrido muito. "Sofremos todos", foi a sua resposta.
Palma Inácio morreu ontem. A pensão que recebia do Estado nem sequer chegava para pagar a mensalidade do lar onde estava internado.
(Salgueiro Maia, outra das minhas referências, delineou e levou a cabo o derrube de um regime. Declinou depois lugares políticos, recusou colaborar com ex-camaradas de armas que seguiram uma duvidosa via revolucionária no pós 25 de Abril e acabou desterrado num soturno quartel militar dos Açores. Morreu minado por um cancro em 1992, não sem que antes o Governo, então liderado por Cavaco Silva – sim, o actual Presidente da República, esse mesmo –, rejeitara para ele, Salgueiro Maia, a mesma subvenção do Estado que atribuíra a ex-elementos da polícia política fascista por serviços relevantes prestados à nação. Assim com minúscula, porque com exemplos destes Portugal nunca irá merecer ser uma verdadeira Nação).
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