2.9.09

O (meu) País Basco


Estive recentemente no País Basco e desmontei quase todas as ideias que tinha sobre o que na realidade lá se passa e quais as reais ambições nacionalistas/independentistas da região.

Para começar, quase ninguém fala basco. Apesar de ser uma língua ensinada nas escolas, difundida nos media (há três canais de televisão que transmitem exclusivamente em basco) e espalhada por tudo o que é indicação oficial (ruas, monumentos, edifícios, etc), o certo é que basta andar na rua e perceber que as conversas são em castelhano. Seja no centro de Bilbau (supostamente a cidade onde os fervores nacionalistas mais se fazem sentir), seja numa pequena aldeia encravada na montanha. E a língua é um dos principais factores de identidade de um povo, basta ver que na Catalunha toda a gente se expressa em catalão e na Galiza em galego.

Os sinais de apoio à linha radical da ETA são praticamente inexpressivos. Cartazes de apoio aos separatistas bascos (e corri Alava, Guipuzkoa e Biskaia, as três províncias bascas), não os vi. Murais do género vi-os poucos (uns três ou quatro e todos em locais isolados) e bandeiras de apoio aos presos etarras penduradas nas janelas só as vi duas (uma na zona antiga de Bilbau, a outra numa pequena aldeia na estrada que corre a costa até San Sebastian). San Sebastian onde estive um dia depois de uma manifestação de supostos apoiantes da ETA cujo impacto foi mínimo (quase tantos polícias como manifestantes) e ao qual a comunicação social (pública e privada, anti e pró-nacionalista) deu relevância menor.

O Athletic Bilbau, um dos maiores clubes de Espanha e o maior catalisador desportivo das ambições nacionalistas bascas, possui uma forte identidade nacionalista, é certo, mas apenas isso. Os adeptos (sim, eu estive no mítico San Mamés), comunicam-se em castelhano e não aproveitam os jogos para ensaiar protestos pró-independência. Os poucos que o tentam são assobiados pelos restantes.

Resumindo, o que o País Basco representa é uma região com forte identidade nacionalista. Confundir isso com o desejo independentista de uma pequena minoria é pura ilusão – ou querer falsear a realidade. E confundir nacionalismo com tendências independentistas é completamente absurdo, para não dizer ignorante.
Duvido que a ínfima parte dos que um dia desejam um País Basco independente concorde com os métodos terroristas da ETA. O que todos pretendem é uma autonomia forte, que em parte já existe mas ainda pode ser reforçada, que lhes reconheça as suas características históricas e culturais. E com isso concordo em absoluto.

Agora só espero que a ETA não se lembre de ler isto e depois colocar uma bomba lapa debaixo do meu carro.

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