31.10.06

Com a Aimee Mann bem colada aos ouvidos e uma Guiness bebida solitariamente no recato do lar – não sabe ao mesmo que no Ryan´s, sei bem porquê – apetece-me discorrer sem destino. Como quando saio de carro e só paro onde me der na real gana. Às vezes calha bem, outras nem por isso mas adiante. Ora bem começarei por onde? Pergunta pertinente.... Sobre a guerra ou a fome? Não, bullshit, demagogia e para isso já tivemos Paulo Portas que chegasse (o pior é o que o voltaremos a ter não tarda nada). Sobre trabalho? Não me apetece, apesar de a coisa hoje nem ter corrido mal. Vários tiros, uns quantos melros caçados e eis que deu para deixar um texto compostinho, acho eu (embora pense sempre que ficou uma merda e que daria para o fazer de 3566 formas diferentes para melhor). Por falar nisso, voltaram a chamar-me de escriba. Podia ser pior mas continuo a não gostar, soa-me a insulto. Gosto de falar com pessoas na rua, de lhes sentir a verdade ou a mentira nos olhos. Não gosto de explorar quem tem alguém a passar mal mas também não obrigo ninguém a falar. Ora aí está a minha forma de livrar a consciência de pesos desagradáveis. Só não aprecio quando me perguntam em que canal a peça vai passar. Muito menos que alguém das minhas relações me questione quando vou trabalhar para a televisão. Respondo sempre que isso só acontecerá quando abrirem concursos para técnicos electricistas. Viram costas e ficam a pensar que não sou da bom da cabeça e que os meus pais devem passar muito comigo. Não passam, a não ser o desgosto de não me verem tempo suficiente para matarem saudades. Eu sei disso e sinto-me culpado. Disso e de outras coisas que não vêm ao caso. Mas a caminho dos 30 deixei que as certas culpas me deixassem de atormentar a toda a hora. Tarde mas ainda a horas. A parte de deixar de fumar não está a correr mal mas podia ir melhor. E estou cada vez melhor assim: a morar sozinho sem ser um eremita. Não quero ter ninguém agora, nem daqui a cinco minutos. Talvez daqui a uns anos. Garanto é que não vou correr desesperadamente atrás disso. Não quero, não preciso e não me apetece. Gosto de acreditar nas coincidências na vida. E gostaria de acreditar que as promessas que faço a mim mesmo quando acordo se vão concretizar a breve trecho. Não vão, eu sei. Há assuntos pendentes que assim continuarão mais uns tempos, a casa não será arrumada em intervalos tão curtos como desejaria e encontros prometidos há muito serão concretizados muito mais tarde que o previsto. Afinal, não serve um blog para partilhar o mais estúpido que há em nós? Esta foi bem a prova disso mesmo. Se bem que pouco partilhei. Mas a vidinha também não está para isso.

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