21.4.09

O homem não tem razão?



O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, comparou Israel a um "Governo racista" e os púdicos países desenvolvidos - ou não, porque Portugal também alinhou na palhaçada - abandonaram a Conferência da ONU sobre Racismo que está a decorrer em Genebra, na Suíça.

Apesar das reservas que me merece uma figura como Ahmadinejad, o certo é que ele tocou na ferida certa. Pode não ter sido diplomático ao fazê-lo, mas disse o que muitos não dizem por receio de serem apelidados de anti-semitas ou anti-Israel, o que vai dar no mesmo.

Ahmadinejad apenas falou de um país que foi criado e posteriormente legitimado internacionalmente através da conquista abusiva de territórios e do afastamento forçado de populações há largos instaladas na região.

De um país que ao longo dos seus 60 anos de existência jamais cumpriu o que ficou definido aquando do seu reconhecimento mundial: que se comprometeria a incentivar e coexistir pacificamente com um Estado palestiniano livre e independente.

De um país que para aumentar o seu território e alegadamente consolidar a sua segurança não teve pejo em anexar faixas de território pertencentes a países vizinhos e soberanos, como o Egipto ou a Jordânia, através de campanhas militares cirúrgicas.

De um país que tem um dos serviços secretos mais eficazes do Mundo, a Mossad, mas também um dos mais sanguinários e violentos.

De um país que combate grupos efectivamente terroristas como o Hamas e o Hezbollah através do pior dos terrorismos, o terrorismo de Estado. Basta ver a desproporção de forças entre os dois lados da barricada durante a recente guerra de Gaza ou a anterior guerra no Líbano para perceber tal conceito.

De um país que bombardeia cidades palestinianas cercadas por todos os lados matando civis indiscriminadamente - crianças, mulheres, velhos -, e impede a assistência aos feridos ou porque não deixa instituições insuspeitas como a Cruz Vermelha actuarem ou, simplesmente, porque os hospitais palestinianos são sistematicamente dizimados durante os ataques.

De um país que sistematicamente corta de forma deliberada o fornecimento de água e energia eléctrica à Palestina ao mesmo tempo que impede que organizações internacionais efectuem o seu trabalho de auxílio aos necessitados na região.

De um país que não tem problemas em destruir símbolos religiosos alheios, basta relembrar a destruição de mesquitas e igrejas durante iniciativas militares.

De um país que construiu e continua a construir um muro vergonhoso que separa o lado árabe do lado judeu.

De um país onde um dos poucos, senão o único, líder que promoveu a paz, Yitzahk Rabin, foi assassinado por um extremista de direita ultra-ortodoxo. Rabin que no seu primeiro e breve mandato como primeiro-ministro, nos anos 70, foi minado por uma campanha suja da Mossad que o acabou por forçar a demitir-se do Governo. Ele que apertou a mão a Yasser Arafat e com ele abriu caminho para uma progressiva mas sustentada Palestina livre e independente.

De um país que, em nome dos governos de unidade nacional, inclui nos seus exectutivos partidos xenófobos de extrema-direita.

Isto não é ser anti-semita. É a realidade dos factos sustentada pela mais pura das verdades: o rumo da História. E não me venham com a desculpa do Holocausto. O terrível massacre dos judeus à mão dos nazis durante a II Guerra Mundial não justifica nem legitima o que hoje Israel pratica em relação aos palestinianos. Hoje e desde há meio século.

2 comentários:

John River disse...

Muito bem, aplaudo de pé (bem eu disse isto mas estou sentado). Concordo inteiramente e acrescento que Israel é, provavelmente, o maior instigador de violência a nível mundial. Nada justifica isto nem o facto de ter visto metade da sua população assassinada por um bárbaro. Olha se o Japão se lembra de dar porrada a todos por ser a única vítima de armas nucleares...
Bom Texto!

mik disse...

não, não tem razão. eu sei que é politicamente correcto desancar só nos israelitas, mas o problema é mais vasto. aconselho-te a ler o livro escrito pela viúva do anwar sadat ( o egípcio que assinou os acordos de camp david). dá para perceber algumas coisas... só uma última coisa: o sadat foi assassinado em 1981, pouco tempo depois de ter alcançado a paz com israel. e não foi a mossad que o matou...