16.1.09

Crónica de um recém-desempregado

- Tenho a informar que a administração decidiu encerrar a delegação do Porto do 24 Horas.

Foi assim desta forma seca que recebi ontem a notícia que fiquei sem emprego de um momento para o outro. De emprego não, de trabalho. Porque a consciência me dita que passei quase cinco anos naquele jornal a trabalhar e não a simplesmente passar tempo e receber ordenado ao fim do mês.

Eu e mais 11 pessoas percebemos que nos atiraram para um buraco da forma mais inumana possível. Sem preparação prévia, como um soco à traição. E que agora nos resta uma incerteza que ameaça ser eterna. Um túnel onde ainda é impossível descortinar luz possível.

Ficámos prostrados, chocados, impotentes por percebermos que não há retorno imaginável, que não há esperança que faça as nossas vidas voltarem ao que eram, por concluírmos que somos seres descartáveis porque os supostos números negativos do grupo assim o determinam. Sem misericórdia, como animais para abate.

Houve palavras que não saíaram das nossas bocas, olhares que disseram tudo, abraços, lágrimas, revolta. Muita revolta. Assim ficámos durante horas. Temo que assim ficaremos dias a fio. Nada será como dantes. E se já nos olhávamos como um todo que formava uma equipa, a partir de agora iremos olhar-nos como uma família a quem arrancam o que tinham de mais precioso. Ainda por cima de forma violenta, dolorosa.

Mas temos a certeza de uma coisa: que vamos lutar e levantar a cabeça. E que quando daqui a uns tempos olharmos para trás, iremos ter orgulho na forma como superámos tudo isto.

Ao lado, na redacção do Diário de Notícias, os jornalistas a despedir eram chamados um a um a uma sala onde lhes era comunicado por um 'superior' que já não contavam mais. Alguns andares abaixo, no O Jogo e no Jornal de Notícias, exactamente a mesma coisa. A minha solidariedade para com eles, que a também tiveram comigo.

Não é que goste deste tipo de expressões, mas o dia 15 de Janeiro de 2009 foi o pior da minha vida. Sobretudo porque percebi na pele que não interessa de nada a minha competência, entrega, dedicação, que não interessaram os meus sacrifícios, as horas a mais que trabalhei sem nada receber em troca e afins. Sou um número. Apenas.

Há algo que me faz erguer a cabeça e ter vontade de seguir caminho: é ter a certeza que um dia ainda me vou rir na cara de quem agora me fodeu a vida. Não é vingança, que não sou vingativo. É aplicar na prática aquilo que desde sempre me ensinaram: nunca deixar que me calquem.

8 comentários:

MTOCAS disse...

Bj e Abraço forte!

Maria Soledade disse...

Abrupta e desumana forma de se dizer tchauzinho a um trabalhador!!
Aprendeste talvez da forma mais cruel que,tal como dizes,apenas somos um número aos olhos daqueles que pretenciosamente se julgam no direito de comandar o nosso destino!!
Já por lá passei, já senti que de humano apenas temos a aparência mas a realidade em qualquer situação da nossa vida mostra-nos que apenas somos um número, um caso, um alvo a abater sem a mais pequena complacência quando o sentinela de serviço assim o entender.

Hoje, com todo o direito choras, sentes revolta, mas o futuro é já amanhã e aínda vais rir-te na cara do sentinela de serviço que resolveu abater-te.

Muita Força e Muita Sorte para ti, para todos voçês...

Beijinhos

Mar disse...

Camarada, não quero acreditar... E agora?!
Muita força!

Abraço

Anónimo disse...

Passei por aqui e li seu texto!Bom o que falar......é melhor acreditar que é uma fase,e que logo logo vc vai estar em um emprego bem melhor e que vai ser mais reconhecido.Deus dá o frio conforme o cobertor.Por isso '' amnhã será outro dia...'beijos.Paty.

Anónimo disse...

Lembras te de ter dito há tempos atás que somos uma árvore batida pelo vento?
_Agora é um furacão que está a passar na tua vida.
Não avisou.Chegou para causar danos
e lembrar te que vais continuar de pé.
Sabes que tens de lutar, mas sairás vitorioso desta dura batalha.
És muito novo.O mundo espera por ti.
Tens todo o direito de viver os sonhos que foste construindo com o esforço da tua labuta.
Ouvias sempre que somos um número.
Chegas te bem cedo a essa conclusão.
Mas,Pedro,muita força.
És um homem honesto e trabalhas desde novo.
Agora pensa só que vais virar uma página de um grande livro que se chama VIDA.
Deste lado estão os que te amam e todos sabemos que vais conseguir o melhor para ti. Pode demorar um pouco. Mas, depois, desse jornal apenas ficará para sempre, o grupo dos teus amigos que tanto prezas.
A todos eles desejo lhes
muita sorte.
Para ti,já sabes,muita força.
Não te esqueças que até para nasceres, tiveste de lutar e foi assim que o médico te chamou:GRANDE CAMPEÃO.
Já sabes, a luta é difícil, mas encontrarás a luz no tal túnel.
Bjs grandes

Dylan disse...

Não sei se isto lhe servirá de conforto, mas não tardará muito para que o grupo empresarial ao qual pertenceu, afundará totalmente, qual Titanic dos tempos modernos. A ganância dos "Oliveiredos" tem fim anunciado e estou curioso para saber quem vai ser arrastado na enxurrada. O futebol!? Só é pena que pessoas dedicadas como o senhor tenham que passar por isto.

Boa sorte...

Pedro Bessa disse...

Camarada! Sei como te sentes. Sei bem. Fui apanhado de surpresa por esta notícia, lida no "Esgravatar" do nosso amigo Fil. Não tenho o teu número de telefone, mas também não saberia o que te dizer... Aceita, por isso, o meu abraço. Forte abraço. E peço que o estendas a todos os camaradas, nomeadamente aqueles com quem mais privei. O Manel e o Hernâni.

John River disse...

Reuniões de luta, humor, desabafo ou simples burracheira no sítio do costume. A porta está sempre aberta e os desempregados têm desconto!