7.10.07

Domingo, dia santo, dia de baptismo do elemento mais novo da família. Manhã cedo, meto-me no carro e inicio uma longa digressão que me levará à igreja onde o puto receberá a água benta que, supostamente, o oficializará perante Deus. Só que mal saio de casa, e talvez porque Ele conhece bem as minhas desconfianças em relação a este tipo de cerimoniais e à Igreja Católica no seu todo, prega-me uma partida que dispensava de bom grado. Estou eu ao volante da minha magnífica viatura capitalista comparada a preço popular quando decido mudar de faixa de rodagem. Olho pelo retrovisor do lado do pendura, nada de carros num horizonte próximo, por isso toca a passar para o lado direito. Eis senão quando ouço um ligeiro chiar de pneus e uma pancada seca. "Ora foda-se (que é o palavrão que mais uso quando alguma coisa me calha mal), isto começa bem. Um acidente às 9h30 da manhã era mesmo o que me estava a apetecer", repeti umas 10 vezes depois de conseguir controlar o carro e evitar um outro embate contra o passeio – sim, que o belo do Lancia ainda decidiu guinar ligeiramente só para testar a minha aptidão ao volante. Saio do carro, olho para a rapariga que teve o privilégio de chocar o respectivo veículo contra o meu e assusto-me. Não propriamente com a cara de pânico da moça, mas sobretudo com a pelugem que lhe enfeitava o pescoço. "Desculpe, a culpa é minha, não a vi, deve ter sido o ângulo morto", disse-lhe. "E agora, tenho que ir abrir a loja no Norteshopping ou ainda vou ser despedida?", responde. "Ora porra, vou ter que inchar o dinheiro do seguro para lhe pagar o conserto e queres ver que ainda vou ser responsável por mais um desempregado?", pensei. Lá chegámos à conclusão que éramos pessoas de bem e que não era preciso chamar a polícia para nada, nisto de sacar conclusões sobre pessoas que conhecem há menos de um minuto os portugueses são mestres, e fomos para um café preencher a declaração amigável. Foi a primeira vez que me dei a tal trabalho e fiquei entusiasmado ao perceber que há algo mais complicado de fazer do que mergulhar em apeneia durante cinquenta segundos. Meia hora depois despedimo-nos. "Qualquer coisa pode ligar-me à vontade", tranquilizei-a. "Desde que não me convides para sair, estás à vontade, telefona à hora que quiseres", sublinhei apenas para mim. Olho mais calmo para a porta do meu carro e vejo-a parcialmente metida dentro. Penso no que vou gastar e no trabalho que vou ter a tratar de tudo o que tem a ver com o seguro, desespero durante dois segundos e sigo caminho. Pouco depois de regressar à condução quase atropelo um cão que se atravessa à minha frente. Da próxima vez que for convidado para um baptizado que calhe em dia de trabalho, juro que não peço uma folga. Ele pode gostar de repetir a brincadeira e eu não estou para isso.

5 comentários:

rute disse...

E foi também o teu baptismo "em matéria" de acidentes de viação? Queres uma boleia no meu TIR? Beijinhos

Pedro Emanuel Santos disse...

Foi o baptismo em termos de acidentes com o carro em andamento. Das outras fizeram o favor de bater quando tinha o automóvel parado, o que também é bom. Só foi pena dessas vezes não ter ouvido a pancada seca que simobliza o choque, uma melodia agradável. E aproveito a tua boleia, sim. Mas só se deixares que pendure um calendário com uma moça com os seios fartos e desnudados na cabine.

Anónimo disse...

ele quem? o cão? ah! Ele, ok.

Carla Teixeira disse...

Olha lá, não foste tu que tiveste um encontro imediato com o acidente logo na primeira aula de condução? :D

Pedro Emanuel Santos disse...

É verdade... Já me esquecia dessa! Foi no que deu a gentileza de ter parado numa passadeira para deixar passar um peão: dois carros estamparam-se atrás de mim. O que eu gostei de perder a minha virgindade ao volante de uma forma tão marcante.