11.3.07

Passaram três anos dos terríveis atentados em Madrid. Dia de chuva tremenda por cá, pelo menos no Porto, levanto-me cedo da cama, havia uma entrevista a fazer em São João da Madeira, e mal chego ao carro ligo ao rádio. Ouço imediatamente tudo o que é comentador a verberar do pior contra a ETA. Que a ETA tinha ido longe de mais, que a ETA tinha atingido limite da indecência, que a ETA isto, que a ETA aquilo. Achei estranho porque a ETA na altura estava bastante fragilizada, altos dirigentes detidos e muito arsenal apreendido, e também porque, verdade seja dita, o grande alvo da ETA nunca foi a população civil, trabalhadores, gente do povo como a que estava degraçadamente em Atocha e Alcalá de Henares naquela manhã. Mesmo assim, recordo-me de ter insultado os etarras. Mas não demorei a pensar de novo que era tudo muito esquisito. Lá fui para São João da Madeira fazer o que tinha fazer e quando regressei, eram umas seis da tarde, a teoria oficial continuava a ser a mesma: a culpa era da ETA. De nada valeu à ETA demacar-se imediatamente dos atentados, o que nunca faz quando os comete, pelo contrário. Das várias pessoas com quem falei, só uma concordava comigo: aquilo não tinha mão da ETA. As luzes começaram a acender-se quando ao princípio da noite foi encontrada uma carrinha com explosivos no parque de estacionamento de uma das estações ferroviárias. Além de ter deixado de ouvir bocas que me apelidavam de perigoso apoiante dos etarras, que nunca fui, percebi, percebemos todos, que o terrorismo atacou à nossa porta. Afinal, Madrid só fica a 500 quilómetros. E aquilo bateu como se tivesse sido por cá.
Hoje, a ETA continua moribunda. Nunca os apoiei, mas reconheço legitimidade aos que lutam nas ruas pela independência do País Basco. Sem sangue. Pelos menos lutam por aquilo em que acreditam. Coisa que os portugueses deixaram de fazer há muito.

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