14.3.07
Quando era mais novo quase entrava em depressão quando começava a Primavera dava os seus primeiros sinais. E a espirrar também, que o meu nariz foi, em tempos, algo atreito a pólenes. Agora que faltam míseros dois meses para entrar nos trintas, dou por mim a ficar todo contente com o primeiro dia de calor do ano. Ou estou a ficar velho, ou maricas. Talvez velho. Que me recorde ainda não tive sonhos pecaminosos em que entrassem desunadados corpos masculinos. Mas esta sensação de envelhecimento não deixa de ser curiosa. Além dos primeiras brancas, começo a ter falhas de memória, a ouvir os médicos repetidamente aconselharem cuidados com o colestrol, a ter ressacas, a achar-me hipocondríaco nas situações mais ridículas, a ouvir músicas que há dez anos detestava e agora me caem no goto, a realizar jantares de amigos em que se fala mais do passado que do futuro, mais de arrependimentos do que de projectos, a lembrar-me da infância como uma imagem distante, a dizer mais vezes que o desejável a expressão 'no meu tempo', a preocupar-me com o futuro laboral, com seguros de saúde, que ainda não os fiz mas falta pouco, e com contas poupança-reforma, apesar dos pouquíssimos incentivos fiscais. O que me alivia e me leva a concluir que ainda sou um bocadinho jovem é nunca sequer ter ponderado a hipótese de começar a descontar para o meu funeral. Quem cá ficar que se amanhe. Desde que seja cremado e as cinzas sejam atiradas de um penhasco junto ao mar está tudo bem.
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1 comentário:
Eu, por acaso, não acho nada que estejas a ficar velho. Só se for a outra coisa. A outra coisa...
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