23.12.07

Sempre que olho para a esplanada deste café, um dos Reval de Tallin, capital da Estónia, lembro-me daqueles três dias em que partilhámos cafés, chás de menta, cerveja, cigarros, bolinhos de amêndoa e, sobretudo, as nossas vidas. Como se tivessemos sido apresentados um ao outro há anos.
Era tão estranho. Eu a desabafar-te tudo o que estava dentro de mim, tu a atirares para fora a ressaca de um amor mal resolvido. Mas era bom, reconfortante. Como foi bom jantar contigo debaixo de chuva naquela pizzaria marada, corrermos atrás daquele eléctrico e fugirmos depois do fiscal que nos perseguiu por não termos pago bilhete, rirmos juntos quando entrámos naquele bar estranhíssimo e insultámos o porteiro que nos proibiu de fumar lá dentro, percorrermos aquelas ruas escorregadias que davam acesso ao porto só para nos sentarmos nos bancos e ficarmos a imaginar as histórias de vida dos que partiam rumo a outros destinos, emprestar-te o meu casaco enquanto congelavas, falarmos um francês macarrónico para as vendedoras de flores só porque sim, pararmos no meio da rua quando de uma janela qualquer saía Faith No More, trocarmos impressões sobre os nossos países e sentirmos que não estamos bem onde estamos e, muito provavelmente, nunca vamos estar bem em lado nenhum.
Foram três dias. Só. Tanto.
Como foi perfeito, também, o olhar que cruzámos no dia em que nos vimos pela última vez. Não foi preciso fazer nada. Porque não quisemos estragar o que foi bonito nem fazer sofrer quem ficou do outro lado. Faltou apenas dizer qualquer coisa, não soubemos o quê. "Thanks for making my days in Tallin happier", escreveste-me tu agora, passado este tempo todo. Foram essas as palavras que então nos ficaram presas na boca. Mas soube melhor ouvi-las agora. Estão mais maduras e significam que aqueles dias irão ficar dentro de nós como uma memória terna, se dúvidas houvesse.
E nunca vou esquecer o que nos prometemos quando te fui levar ao hostel pela última vez: um dia ainda vamos beber outra cerveja juntos. Tenho a certeza que sim. Estou é ansioso para saber onde.

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