Ofereceram-me, na brincadeira, um livro de poesia que, de tão ridículo, serviu para me rir até às lágrimas, quase literalmente, durante uma recente jantarada, a tal em que quis ir às trombas do empregado mal educado. Não fiz a figura triste de me atirar para o chão como aquando daquela bela sessão de leitura dos escritos dos reclusos da prisão de Izeda, quando me rebolei ao ouvir ler os relatos sobre as respectivas solidões masturbatórias. Mas quase.
Ora, a obra em causa é de uma senhora que dedica pouco mais de cem páginas a transformar em suposta arte todo um vasto rol de temas sexuais. Eu diria que aquilo começa nas preliminares e termina no orgasmo, com muita estupidez pelo meio.
O que mais me impressionou na autora, pelo seu arrojo literário, foi o ter incluído num dos seus poemas uma palavra que penso nunca havia sido antes utilizada na longa e rica história da poesia portuguesa: beiços. Isso mesmo, beiços, esse termo tão carinhoso, terno, que me apetece soltar sempre que tenho uma noite romântica com uma mulher. Haverá algo mais bonito do que dizer: "quero beijar os teus beiços?". Se houver, alguém que me diga.
Eis um excerto do poema no qual me deparei com tão curioso vocábulo:
"E pego-te então
Aperto-to na mão
Que o segue até ao topo
Cabeça de cereja avermelhada
Não to largo, não te perco
Vagueio com a língua molhada
De saliva misturada com teu húmus
Com jeito másculo pedes-me
O que te dou com os beiços"
Ora aí está uma bela descrição de um fellatio. Ou de um bobó, como tanto gosto de ouvir dizer. Também gosto de mamada, mas isso era conspurcar este belo momento. Depois de ler a palavra beiços, não tenho vontade de violentar a nossa língua com calão tão boçal.
10.8.07
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