Então cá vão mais uns excertos do grande António Botto (sabias que foi ele que incentivou o Eugénio de Andrade a continuar a escrever?)
Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.
Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!
Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!
E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento
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Ouve, meu anjo;
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?
Tentou, severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso
Mas aí!,
A carne do assassino
É como a do virtuoso.
Numa atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o corpo doirado
Que eu beijei quase febril.
Na vidraça da janela
A chuva, leve, tinia...
Ele apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
E eu não te tenho aturado, bem pelo contrário. Tu é que o tens. Ou melhor, estamos os dois defronte daquela janela de que falamos tantas vezes. Só aproveitamos a claridade que por lá entra, mais nada. O que interessa é que temos feito bem um ao outro num momento particularmente complicado das nossas vidas. É ou não verdade?
20.2.08
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1 comentário:
verdade verdadeira!!!
um XI GRD
é isto tudo na integra:
Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!
eu
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